Os principais frigoríficos de Mato Grosso do Sul acompanharam o movimento nacional e decidiram suspender o fornecimento completo de carne bovina às lojas do grupo Carrefour Brasil, que incluem Atacadão e Sam’s Club. A ação ocorre após a declaração do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de que a rede na França não venderá mais carne originária do Mercosul, questionando a qualidade e a sustentabilidade dos produtos.
Mato Grosso do Sul é um estratégico na comercialização de carnes tanto no mercado interno quanto no externo. Por isso, o movimento – que já afeta mais de 150 lojas no Brasil – conta com o apoio de associações do agronegócio estadual como resposta à postura considerada protecionista da empresa sa.
Entre os frigoríficos que aderiram à interrupção estão JBS, Marfrig e Masterboi. Conforme reportagem publicada pelo O Estado de São Paulo, somente a Friboi, marca de carnes bovinas da JBS, responde por 80% do volume fornecido ao grupo de origem sa. Na rede Atacadão, o fornecimento da marca chega a 100%.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul (Sicadems), Sérgio Capuci, disse em entrevista ao Correio do Estado que, apesar de não haver números concretos sobre a representatividade do volume de vendas ao grupo francês no Estado, é importante que os frigoríficos se posicionem. Com isso, Atacadão e o Carrefour vão sentir os efeitos, porque os grandes frigoríficos não estão entregando mercadoria para eles.
Impactos
Os impactos das falas do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, na semana ada, atravessaram o Atlântico e reverberam também nas operações da rede de supermercados no Brasil.
A decisão da varejista sobre interromper a comercialização da carne produzida no Mercosul despertou reações do próprio governo federal, além das manifestações de diversos representantes o setor, como associações e frigoríficos, que anunciaram a suspensão da venda de alimentos para a cadeia de mercados no país.
Mas em meio à troca de boicotes, quem deve sair mais prejudicado é o próprio Carrefour, segundo Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, especializada no setor de varejo. “Sua segunda maior operação está justamente no Brasil”, aponta a economista.
Tozzi reitera que tanto para o Brasil quanto para o Mercosul o impacto é pequeno. “Os maiores clientes do Brasil em carne in natura são China e Estados Unidos, e o Brasil tem feito um bom trabalho em ampliar as vendas em novos mercados, como Emirados Árabes, México e Filipinas”.
E o problema para a varejista não diz nem respeito ao abastecimento da rede na França — cuja expressividade da carne do Mercosul nas geladeiras é pífia —, mas sim à imagem da marca no país, que já vem sendo abalada.